sábado, 30 de agosto de 2008

Rio de prata, pirata, vôo sideral na mata.



Esta capa é da versão original da trilha do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, de 1977.

Não é que a gente não tenha mais música infantil boa pra ouvir e aplicar os filhos e os sobrinhos. Mas é que antigamente essas coisas preciosas apareciam nos comerciais da Globo, e a gente infernizava o ouvido do pai e da mãe até ganhar. Hoje, os pobres pais têm que sair garimpando as boas produções. E, logicamente, ninguém vê um menino pedir de aniversário o último CD do “Palavra Cantada”, o infantil do “Amaranto”, o da “Adriana Partimpim”. Os pais, então, (não são todos) esquecem essas buscas de lado. Eu mesma, que tenho sobrinhos, não me lembrava mais dessa trilha.

Me deliciei com as perolazinhas que eu ouvia à tarde, chegando da aula. Tem o tema principal do Gil (que a gente só lembra da primeira e da segunda parte), tem um espetáculo de música do João Bosco, “Meu caro Visconde”. Tem a Lucinha Lins cantando “Narizinho”, bem diferente da versão da Ivete Sangalo. Tem os Doces Bárbaros em uma performance muito engraçada, cheia dos uivos da Gal e do Gil. Essa dá pra pular. A "Tia Nastácia" é de Dorival Caymmi. E tem o Jards Macalé cantando “Tio Barnabé” com a Marlui Miranda, que até hoje continua sumida. Aliás, um dos melhores e mais desconhecidos CDs do Gil tem várias participações dela, “O Sol de Oslo”.

Voltando ao “Sítio”, mais uma vez sou obrigada a dizer que música boa não fica velha. As dessa trilha são todas inventivas e inteligentes. E a maioria dos arranjos permanece muito atual. Postei nos comentários o link para ouvir o CD completo. Pra comprar, é só buscar no Google.

Os caminhos mudaram, mas a gente ainda encontra um universo paralelo pra ir e levar as crianças.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Viva o cordão azul e encarnado.


Estou me imaginando em outro lugar. Sem velhos amigos, sem sobrinhos, sem cerveja gelada e carne cozida de boteco. Sem lata de amendoim entre as mesas esquentando as costas e as pernas. Muita coisa nova se apresentando, aplacando o vazio, preenchendo o espaço.

Estou me perguntando do que é feita a minha saudade. A saudade do Caetano tem Santo Amaro, tem o “ai” da mãe, o “ui” da irmã. A do Gil e do Dominguinhos tem uma inquietação que chega a doer. “Não sei comer sem torresmo” diz muito da gente. Eu também não sei fazer um tanto de coisa sem mais um tanto de coisa. A saudade do Djavan tem as brincadeiras de infância. Aliás, alguém sabe porque o “Serrado” dele é com “s”? Será que ele se sentiu serrado do passado? Se um dia eu for embora, vou me serrar do estandarte de São João do Carneirinho, do telefone tocando no meio da noite, do lanche servido na cama mole da minha mãe. A saudade tem muita coisa, muita gente, muitos cheiro, muito sabor. Tem quinquilharias mentais - essas, sim, me acompanham por onde vou.

Estou pensando se quando a gente vai embora deixa a impressão de que está mais feliz do que quem fica. Pode ser. E acho que, feliz mesmo, a gente fica é quando volta. Como diz o Gil, uma hora a gente aprende que ter ido foi necessário pra voltar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Se a gente falasse menos, talvez compreendesse mais.


Coisa esquisita, esse Devendra Banhart. Tive a grata surpresa de descobrí-lo quando buscava o Rodrigo Amarante no google. Ele canta uma música no disco do Devendra. Na busca, dei de cara com esta foto. Achei que o figurino fosse de odalisca. Mas é de Carmem Miranda.

O Devendra é texano, é filho de indianos, foi criado na Venezuela e hoje mora em San Francisco. Canta em inglês, espanhol e em português também. Entre seus ídolos estão Bob Dylan, Caetano Veloso, Mutantes e Secos e Molhados. Nas suas músicas, a gente percebe essas e outras influências. Ele mesmo fala de todas. Ele é debochado. Disse que queria gravar um disco em brasileiro, não em português. Cada música é muito diferente da outra. No CD que baixei, Smokey Rolls Down Thunder Canyon, tem rock, samba (tem que avisar que é samba), tem um coro gospel e traços da música oriental em vários momentos. Tem uma que é puro Stan Getz, outra lembra Led Zeppelin. Em outra, ele canta o “din gon din gon gon din din” de “Acabou Chorare”. Tem também um rockezinho romântico anos 60.

O som não tem nada de novo e é muito bom. A gente percebe que o cara canta e compõe o que gosta e pronto. Enquanto procurava saber mais sobre ele, encontrei várias definições: roqueiro, roqueiro-folk, tosco, psicodélico, hippie, étnico, zen e mendigo são só algumas. É impressionante a mania que as pessoas têm de rotular quem não quer rótulo. E a crítica “especializada” tem que comparar. O Devendra já foi comparado até à Billie Holiday, e eu ainda não entendi de onde vem a semelhança. Engraçado demais isso. Ela, se resolver se remexer no túmulo cada vez que alguém a comparar com um artista novo. Uma dessas últimas foi com a Madeleine Peyroux. É verdade que a cantora tem um timbre que lembra o da Billie Holiday. E também que a imita descaradamente nas inflexões, nos fraseados, em tudo. Mas o pessoal acha isso bonito e faz juízo de valor em cima da semelhança do timbre. Mania chata, essa. É desrespeitoso com a veterana e desconcertante para “a nova Fulana de Tal”. Se bem que há quem ache que isso é elogio. Então, com o Devendra não poderia ser diferente. Melhor ouvir. Coloquei nos comentários o link de um clip dele, “Carmensita”, com a participação da namorada, a Natalie Portman. Um jornalista português disse que “os efeitos especiais têm qualidade duvidosa”. Hahahahahahahahahaha!!!

Quem souber onde eu encontro um mendigo desses, por gentileza, entre em contato.