quinta-feira, 23 de abril de 2009

E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal.


Ainda bem novinha, comecei a ir às festas de São Cosme e Damião no centro de Umbanda que minha avó freqüentava. Adorava as músicas, o batuque, os rituais. É tudo muito bonito. Quando ela percebeu meu interesse, começou a me falar sobre os orixás. Fazia uma confusão danada na minha cabeça, dando respostas incompletas. Mas conseguiu despertar minha simpatia por eles. Uma das primeiras coisas que aprendi (e já esqueci) foi a fazer a correspondência entre todos os orixás e os santos da igreja católica. Isso vem de um recurso usado pelos escravos para preservar o direito ao culto de suas religiões.

Meu orixá, de acordo com os ensinamentos de D. Zenília, é Xangô. Ele é um guerreiro atrevido, daqueles que não costumam levar desaforo pra casa. Porém, justo. São João Batista é um dos santos que correspondem a esse orixá. Até hoje minha avó me chama de São João do Carneirinho. Por causa do cabelo curtinho e anelado. Nem preciso dizer que adoro isso.

Mas desde que descobri São Jorge, passei a gostar dele também. São Jorge era um militar da Capadócia, terra que hoje pertence à Turquia. Morreu degolado em nome de sua fé em Jesus Cristo. E, segundo a Umbanda, Oxossi é o orixá que mais se assemelha a ele.

De São Jorge, gosto da história. Gosto muito da oração, que nos orienta a preservar os inimigos, mas mantendo todos bem longe da gente. E gosto muito da figura. Há uns 4 ou 5 anos, ganhei um calendário de São Jorge. Desde então, levo em minha carteira, tampando a cédula de identidade. Tem me protegido.

Hoje é o dia dele. “Eu estou feliz porque também sou da sua companhia”.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Eu, muito sério, vou remando.



Queria falar de coisas mais leves, mas não estou muito leve. Queria falar mais de música. Queria falar das pessoas e de tudo o que mais amo na vida. Não consigo agora.

Não sei se é adequado citar Manoel de Barros sem leveza. Mas ele sempre me faz bem. Um de seus poemas fala de sua decepção quando, na infância, descobriu que a cobra de vidro, perto de sua casa, tinha outro nome: “enseada” - muito sem poesia, segundo ele. Há uma enseada ao meu redor. Mas nada tão triste que me impeça de estar bem ao fim do dia. Meus dias têm terminado bem. Todos têm sido de busca, de tentativa, em todos os sentidos. E tenho, sim, recebido e percebido muito em troca. Mas estou cansada, e fui obrigada a colocar alguns planos e algumas relações de molho. Especialmente as que não estão leves.

Quem é bem-vindo perto de mim sabe que é muito bem-vindo. Sempre sabe. Mas, às vezes, fico querendo entender qual a minha missão com determinados seres, saber o que eles querem de mim, ou o que eu quero deles. E não consigo entender nada. Deve ser para exercício da paciência. Aprimoramento espiritual. Queria tirar férias de algumas pessoas. Umas, só por uns dias. Outras, por uns meses. A outras, queria dizer: “Vá viver sua vida e não me siga”. Aliás, “Já Passou” é uma ótima música pra cantar pra elas. Tanta coisa em minha vida já passou, já foi... E tanta coisa já chegou... “Acredito que estou vendo uma luz do outro lado do rio”. E não vou esperar essa luz ir embora. O resto, já passou.