quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Eu me lembro muito bem. Foi numa véspera de Natal.



“Então é Natal”. Que saco. Não vou me martirizar, mas tenho que reconhecer que não cumpri meus planos feitos no ano passado para esse dia 24 de dezembro. Queria passar a noite em alguma atividade verdadeiramente útil pra alguém. Mas tinha que ser nessa noite mesmo. Pra mim, essa é a parte mais difícil.

Quase sempre foi assim. A impressão que eu tenho do Natal com a minha família é de que nunca queremos estar no lugar onde estamos. Acho maravilhoso quando se tem uma família grande, unida, e todo mundo se encontra, por prazer, pra trocar abraços, presentes, contar como anda a vida. Houve uma época em que logo depois da meia-noite eu corria para a casa de um amigo. Ele é ateu, mas fazia questão de proporcionar um Natal muito divertido pra uma renca de gente. Tinha de tudo: peru, frutas, presentes pra todo mundo (geralmente livros e CDs), vinho e muita festa. A campainha da casa dele tocava a madrugada inteira. E no final, quando amanhecia, uns amigos iam embora e outros ficavam por lá mesmo. Isso se repetiu por alguns anos, mas acabou.

Já foram ao centro da cidade este ano? Eu já. Como em toda época de Natal, tá deprimente: um dilúvio caindo, uns loucos gritando ao microfone pra chamar o povo. Só que, neste ano, muitos vendedores estão de braços cruzados. E o povo, por enquanto, só olha as vitrines. Mas até o dia 24 isso vai mudar. Sempre muda. Menos o dilúvio e as musiquinhas. E quando chego em casa ouço a Simone parecendo uma cabrita, gritando da casa da vizinha. E olha que hoje ainda é dia 17 de dezembro. O que será que essa vizinha reserva para o dia 24, heim?! A Simone, eu não quero nem imaginar. Temos uma das melhores músicas do mundo. Mas a gente prefere versões ridículas como essas que ela canta.

A marujada, o fandango e o congado
é que deveriam fazer parte do nosso Natal. Teríamos um Natal bem brasileiro. Eu conheço uma moça que nasceu e mora numa cidade histórica do interior de Minas, e ela tem medo de congado. Eu posso com isso? Não seria muito mais legal se a gente ouvisse Calix Bento nesta época em vez de Então é Natal? Se a gente visse as guardas de congado de Contagem e de Oliveira passarem pelas avenidas em vez do caminhão da Coca-Cola?

Procurei uma música do Adoniran Barbosa pra vocês, mas não encontrei. Chama-se Véspera de Natal. Ouçam, se puderem. Primeiro ele mostra um quadro triste, até contundente: a mulher chateada, as crianças chorando, a família sem dinheiro pra dar presente. O pai, então, tem a idéia de juntar uns trocadinhos pra comprar uns pães de mel e se vestir de papai-noel, surpreendendo a família, entrando pela chaminé. Mas, como a história é do Adoniran, termina assim:

“Ai meu deus, que sacrifício
O orifício da chaminé era pequeno
Pra me tirar de lá
Foi preciso chamar os bombeiros”.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Vamos mergulhar do alto onde subimos.


Só depois fui saber que um daqueles magrinhos do Inimgos do Rei era ele. Um dia ouvi sua música na novela da Globo, O Último Dia. Achei muito forte aquilo: “o que você faria se só te restasse esse dia”. Aliás, esta foi a primeira música do Paulinho Moska que cantei. Lembro de não conseguir pronunciar “trepava” porque meu pai estava na platéia. Cantei “transava” (ainda bem que eu mudei, e até meu pai mudou).

O mimetismo do Moska já chegou a me incomodar. Acho que eu não o compreendia muito bem. Depois fui me envolvendo com cada uma de suas histórias de uma maneira diferente. Fui descobrindo o intérprete sensacional que ele é. E no palco? Nem é tietagem. Acho ele o máximo mesmo. Eu tenho até planos pro Moska (que ainda não sabe). Mas eu acredito neles. “A esperança é um dom que eu tenho em mim”.

Tem um traço latino muito forte e muito peculiar nas suas composições. O discurso é sempre direto, claro, na veia. E com a mesma intensidade do meio choro e meio tango Paixão e Medo ele canta Retalhos de Cetim, do Benito di Paula. E Sonhos, do Peninha. Tudo nesse artista me inspira. É sempre muito: muito lírico, muito romântico, muito duro, muito preciso, muito passional. E tudo o que vem dele é de uma vitalidade sem tamanho. Faz a gente se tocar pra coisas simples e fundamentais como “vamos celebrar nossa própria maneira de ser”.