terça-feira, 22 de julho de 2008

Agora que esses detalhes estão pequenos demais.






Enquanto eu montava o repertório do meu primeiro show, um amigo me ligou e colocou uma música pra eu ouvir. Quem cantava era Chico César e a música era “Em nome de Deus”, do Sérgio Sampaio. Até então, dele, só conhecia “Eu quero botar meu bloco na rua” e outra que um querido ex-namorado cantava lindamente, “Viajei de Trem”. Comecei, então, a vasculhar sua vida e obra e descobri coisas maravilhosas. Ele era um daqueles malditos que brigavam com gravadora e, por castigo, ficavam na geladeira. Acontece que ele ficou na geladeira até morrer. Uma pena. O cara tinha uma vitalidade enorme pra cantar e um talento incomum pra compor música boa. Faleceu em 1994, com quarenta e poucos anos.

Naquele primeiro show, não incluí nenhuma música dele. Mas, no seguinte, coloquei logo três. Uma delas é “Meu pobre blues”. Foi composta para o Roberto Carlos, que é conterrâneo do Sérgio. A própria música é um pedido para que o Rei a grave. E como aconteceu com várias outras, feitas com o mesmo propósito, não foi gravada por Sua Majestade.

Quando eu cantava essa música, sentia uma emoção muito forte que, junto com o nervosismo, colocava um nó na minha garganta. Mas eu adorava cantá-la. E sentia que as pessoas gostavam dela, também. A letra é tocante e a melodia e o arranjo são melancólicos, bem ao modo do Roberto. Um amigo me disse que “Meu pobre blues” lhe remete aos parques de diversão que costumava ir quando era criança, em Varginha. Explicada a lembrança: quase todos nós, com mais de trinta, já ouvimos uma música do Roberto Carlos tocando no alto-falante de um triste parque num domingo à tarde.

Quando eu ouço uma música do Sérgio Sampaio, fico mais empolgada em desenterrar coisas esquecidas. Acho fundamental apontar o que há de novo na música brasileira. E não é pouco. Há muita coisa boa rolando longe dos canais tradicionais de mídia e de gravadoras. Mas apresentar o que está esquecido é muito bom também. Adoro quando canto uma música e as pessoas perguntam de quem é ou dizem que conhecem de algum lugar mas não sabem de onde. Como o Sampaio, há vários ilustres quase desconhecidos nessa história. Alguns recebem homenagens póstumas, outros são re-descobertos quando se tornam lavadores de carro ou frentistas, como é o caso de Cartola e Tom Zé. Muita gente, em todos os níveis, reverencia os esquecidos gravando, cantando nos botecos, remexendo nos porões das antigas gravadoras, remasterizando obras inteiras, postando nos blogs. Que bom que isso acontece.

Só consegui colocar aqui a mais conhecida do Sampaio. O bloco dele está na rua do Miçangas. E outros virão.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Confessando bem, todo mundo faz pecado.



Em "Ciranda da Bailarina", Chico Buarque e Edu Lobo falam do mito criado pelos palcos. De como ficamos embriagados pela expressão de um artista, criando uma imagem de perfeição, mesmo que seja só por alguns instantes. É um sentimento bem parecido com a paixão. Assim, às vezes é difícil imaginar o que a bailarina, a trapezista ou outro tipo de artista que faz coisas extraordinárias pensa, onde dorme, como vive. Hoje, bem menos, já que a vida dos artistas é dissecada pelos sites, revistas e programas de TV. Me perguntei isso, pela primeira vez, quando fui ao Holiday on Ice com mamãe e papai. Era o primeiro grande espetáculo que eu assistia. Fiquei pensando se os patinadores eram casados, se tinham filhos, se iam à escola. Minha mãe me disse que os artistas itinerantes costumavam se casar entre si. E assim era possível viver em família durante as turnês. Já pensou se toda companhia funcionasse como um circo familiar? As luzes eram lindas, em tons de lilás e alaranjado, e o espetáculo ganhou uma dimensão inexplicável aos meus olhos. No início dos anos 80, qualquer atração internacional em BH já significava “o acontecimento”. Ainda mais um espetáculo de patinação em que o Fred, o Barney, a Vilma, a Beth e o Dino faziam acrobacias no gelo, inimagináveis por uma criança comum. Mas a verdade é que a magia dos palcos, das telas de cinema e de TV não escolhe idade, cultura, tempo ou lugar. Mesmo os mais críticos e céticos são seduzidos por ela. Ainda bem que é assim.

Enxergar o lado humano de um ídolo não é das melhores tarefas. E pode ser cruel com eles, já que eles também se irritam, tomam todas, têm problemas de pele, de estômago, de tpm, de família e de dinheiro. Até o Caetano.

Conheci o Caetano na infância, me apaixonei perdidamente por aquele leonino na adolescência e, há uns dez anos, resolvi encontrá-lo depois de um show. Não tinha um tostão furado mas ganhei o ingresso do meu namorado. Chamei um amigo (fã xiita) que conhecia bem o funcionamento do Palácio das Artes e fui. Depois do show comecei uma caçada. A Paula Lavigne mandou o motorista, que já era nosso chapa, avisar que Caetano não iria falar com ninguém. Básico. Mesmo assim, fui a todos os cantos possíveis, tentei cercar todas as saídas ao mesmo tempo e, finalmente, consegui encontrá-lo em um dos corredores. Quando nos viu, já foi dizendo, com a cara mais enjoada do condado, que não daria autógrafo. Eu, particularmente, não conheço nada mais sem sentido do que um autógrafo. Jamais pediria um a alguém. Mas isso bastou pra eu me sentir minúscula perto do meu ídolo. Mesmo assim, eu disse:
- E eu lá quero autógrafo, Caetano? Ele me olhou desconfiado e, antes que fosse mais grosso, falei que queria uma foto, apenas. Aí ele disse, com aquele jeito abaianado, com todos os fonemas abertos:
- Fóto, póde...

O fogo apagou em menos de uma semana e, depois, não tive mais vontade de defender o Caetano a qualquer custo, de travar discussões exaltadas sobre ele, e passei a enxergar o quanto o cara é mimado e chato. Tive que sentir na pele pra entender. Continuo amando o que ele tem de bom, e não é pouco. Aliás, tenho um amigo que diz que o maior defeito do Caetano é ser bom. Porque, aí, temos que fazer uma ressalva quando falamos mal dele. É chato mas é genial. Procuro, então, ver meus ídolos como vejo as pessoas queridas que me cercam. Humanos e imperfeitos como eu. O que também não é muito fácil. Mas prefiro não procurar saber se elas têm pereba. Quem não tem?


domingo, 6 de julho de 2008

Nosso amor que eu não esqueço.


Se tem alguém que sabe falar de sentimentos opostos, com a mesma força, é Noel Rosa. Suas músicas são divertidas, tristes, hilárias. Outras, contundentes. Último Desejo é uma dessas corta-pulsos de que eu gosto muito. Só a conhecia por minha mãe. Ela cantava no carro, despertando o mau-humor do meu pai que ficava incomodado com tanto sentimentalismo. Eu também me incomodava um pouco. Achava que ela estava triste, quando cantava. E, provavelmente, estava. Não me esqueço da cena: arqueava a sobrancelha, fechava os olhos, colocava a mão no peito e cantava com unção. Nem aí pros incomodados.

Um tempo depois vi o Boca Livre cantando Último Desejo no programa Globo de Ouro. Chamei minha mãe e disse: - olha a sua música, mãe! Desde então ela passou a ser minha também. Depois, comecei a gostar de cantá-la. Acho que a ironia entre os versos a torna mais leve, sugere nuances na interpretação. Dor de amor em música não me deixa triste. Fico feliz quando ouço e canto, pra dizer a verdade.

Antes, algumas músicas eram sinônimo de baixo astral pra mim. Tinha pânico de Rosa de Hiroshima. Hoje, só vejo beleza na música, na poesia e na voz. Tinha medo de Tropicália. Aquela introdução de metais densa me amedrontava. Tinha medo pela letra também. Imaginava os aviões decepando a cabeça do sujeito. Hoje, é uma das minhas preferidas. A voz grave do Nelson Gonçalves acabava com meu dia. Atualmente, pesquiso a obra dele. Que eu me lembre, as únicas músicas que ainda conseguem me deixar mal são Ces’t La Vie e aquela que fala do avental todo sujo de ovo da mãe. Essa última me faz chorar desde a época do maternal. Sei lá por quê. E, é claro, as ruins continuam me tirando do sério.

Acho que pra cada fase da vida da gente tem uma música que fala mais alto, grita, sussurra, machuca ou faz carinho. Música tem esse poder. E Noel Rosa é muito poderoso. Soube rimar amor, alegria e dor. Na arte e na vida.

14 de maio de 2008.


Com açúcar, com afeto.


Neste ano eu fiz mais campanha pro Dia dos Namorados do que cartão de Natal no ano passado. Pra motel, joalheria, restaurante japonês, batom e até pra drogaria. Trabalho delicioso de fazer mas dá uma dor fininha, como diz minha amiga, quando a gente não tem namorado. Mas isso é outra história. Entrei no clima e estou ouvindo muita música romântica, especialmente as norte-americanas. Um festival de “I love you” que sempre me chamou a atenção. "I want tell you how much I love you" - linda. "Baby, baby, baby, baby, oh, baby, I love you" - um melado de amor. "I just call to say I love you" – nem parece que é do Stevie Wonder.

Brasileiro fala muito de amor mas não usa tanto “Eu te amo” na música. Eu sei que os sertanejos modernos abusam. O pessoal do Axé também. O respeitável Roupa Nova gravou uma música em que o cara fala que precisa gritar pra todo mundo ouvir, é verdade. Mas a música brasileira me parece mais original pra falar de amor. Fala mais da dor e da falta dele, isso é verdade. O nosso talento pra tal é tanto que a Nara Leão encomendou uma música ao Chico que contasse a história de uma dona de casa que agüentava poucas e boas do marido bebum mas abria os braços pra ele à noite, com todo amor e carinho. Ganhou uma obra-prima pra cantar - sem dizer “Eu te amo”. “Ai que saudades da Amélia”, do Ataulfo Alves e do Mário Lago, foi composta em 1942 mas estourou em pleno pós-guerra, na crista da onda sentimental-romântica das nossas rádios. E não tem a famosa expressão. A gente tem Vinícius e Toquinho pra dizer que o amor é uma agonia. Tem Lenine pra falar que o amor se foi desesperado. Tem Torquato e Edu pra contar que o amor foi tanto... e, no entanto, não tem muito “Eu te amo” na obra deles.

Convenhamos: até o amor de corno é mais bacana em nossa boa música. "Molambo", do Jaime Florence e Augusto Mesquita, é um bom exemplo. O sangue latino e a diversidade da cultura brasileira moldaram a nossa forma dolorida e refinada de expressar o amor. A gente não copia o “Eu te amo, então, feche os olhos e venha comigo” dos americanos. E a dor é o nosso grande canal. Afinal, como diz o Gil, que tem música pra tudo, “quando a gente tá contente, nem pensar a gente quer”. Quanto mais, falar.

Não sei se eu estou pirando ou se as coisas estão melhorando.


Ontem vi, em uma espécie de making of do carnaval baiano, Daniela Mercury falando despretensiosamente sobre o Wando, sobre o que ele representa para a música brasileira e de como nos apropriamos das histórias dela, como se fosse a nossa própria história. Pensei, então: é isso que me faz escrever esses textos. Desde criança eu tenho o hábito de buscar uma música para ilustrar o que alguém diz ou o que eu mesma digo, vivo. Sem esforço. É um prazer.

Um dia minha analista me pediu que escrevesse o que eu estava sentindo e entregasse a ela. Percebi que seria muito mais eficaz se eu levasse pro consultório a letra da música que tinha martelado minha cabeça durante a semana. Foi o que eu fiz, e deu muito certo.

A música Mamãe Natureza me diz muita coisa desde que a ouvi pela primeira vez. Meu irmão me aplicou e eu saí dançando feito doida pela casa. Como eu era criança, certamente ela me pegou pela veia de rock da Rita Lee, pela melodia e ritmo pra lá de contagiantes. Mas continuou me martelando à medida em que fui crescendo. Já vivi muitas questões parecidas com as dessa letra. Especialmente, “Não sei se eu vou ter algum dinheiro ou se eu só vou cantar no chuveiro.” Esta já me custou algumas sessões de análise. Mas, um dia, me deram alta.

Ando cantarolando essa música novamente. Acho que as coisas estão melhorando. Ou, então, estou pirando mesmo. Me sinto acolhida. Se é pela mãe-natureza, por minha mãe, por meus amigos ou por mim mesma, não sei. Não tem mais ninguém fora dessa lista pra me colocar no colo. Disso eu sei. Mas é bom o que estou sentindo agora. Sou uma planta com raíz, caule e folhas. Tenho cabeça, ombro, joelho e pé. Parece que não me falta nada. Me dei alta. 

05 de maio de 2008.

Eu já nem sei se eu tô misturando.

Outro dia fui assistir, pela segunda vez, a uma peça do grupo de teatro de uns amigos, a Cia Luna Lunera. Se tivesse tempo, iria ver mais uma vez. A montagem foi feita a partir de um conto do Caio Fernando Abreu, “Aqueles Dois”, do livro "Morangos Mofados". Fala de um relacionamento entre dois homens, Raul e Saul, que se trava em uma repartição pública fria, no frio de São Paulo, sob olhares frios, incomodados com o amor daqueles dois. É de uma delicadeza cortante. Na trilha, "Amor meu grande amor", "Preciso dizer que te amo", "Nothing compares to you". "Tu me acostumbraste" e outras que falam de amor. Algumas são citadas no próprio texto e outras foram pinçadas com muita sensibilidade pelo grupo.

Chorei, mas saí do teatro eufórica, transbordando amor pela vida e pelas coisas que ela me dá. Coisas valiosas como o próprio amor, uma música, um filme, um amigo, um sorriso, um livro. A vida me permite ver muito bem a beleza disso tudo. E me permite amar as pessoas, sem culpa e sem medo. Tem muito sentimento saltando de nós pra gente querer sufocar logo os mais bacanas.

No texto, Raul fala de não ter correspondido a um abraço da sua mãe, por um daqueles resquícios inexplicáveis de adolescência que nos faz ter vergonha de demonstrar e receber afeto de quem a gente mais ama. Isso acontece com muita gente, eu sei. E também não estou livre disso. Mas amor, cumplicidade, amizade, a gente mostra até na bandeira de um sorriso, como diz a música. Vale muito. O que importa é trocar sentimentos que nos fazem melhores. A vida é bela, gente. Só nos resta viver.

O beijo, depois o café, o cigarro e o jornal.


Não é que eu goste do Roberto Carlos. É que eu adoro. E adoro suas parcerias com o Erasmo. As músicas deles falam de coisas simples e muito presentes. A figura do Rei, seu carisma, seu amor pelo que faz, tudo isso me emociona. Acho uma pena ele estar tão perturbado e não compor mais músicas como “Costumes”. Esta certamente foi feita para a Nice, já que ela e Roberto haviam se separado pouco tempo antes do lançamento de seu LP de 1979.

“Costumes” fala da falta que aquelas coisinhas pequenas feitas a dois nos fazem: a primeira conversa da manhã, quando o "bom dia" não faz muito sentido, o beijinho, os encontros com os amigos. Sabe aquela sensação horrorosa de que perdemos alguma coisa, de que estamos deslocados em nosso próprio espaço? É assim que essa música pega a gente e dá uma lambada. Mas é quase um fado, de melodia simples e sentimental.

O Roberto e a Bethânia cantam “Costumes” Ad libitum, que significa “à vontade”. Em Música, quer dizer que o intérprete tem uma certa liberdade para dividir, que não está preso a um ritmo marcado. Aliás, muitos fados são cantados e tocados assim. Penso que seja para dar ao ouvinte um tempo para se embriagar da música e da interpretação, e refletir sobre suas próprias dores. E se a saudade dói tanto, com fado ou sem, é porque foi bom, porque os costumes nos fizeram felizes um dia. É por isso que eu adoro o Roberto e o Erasmo.

Há pouco tempo assisti a uma entrevista da Nara Leão, da época do lançamento de seu LP só com músicas da dupla. Ela disse que precisou se despir de muitas coisas pra interpretá-las como deveria. Certamente, depois de sua fase bossa-nova, seguida do engajamento social, deve ter sido difícil cantar coisas pouco subjetivas como “eu te proponho nós nos amarmos.” É por isso, também, que eu adoro a Nara. Pequena, simples, corajosa e livre. Ser livre assusta. É dói se libertar dos costumes. É assim mesmo. Eu sei.

27 de março de 2008.

Se tudo tem que terminar assim, que pelo menos seja até o fim.


Quando conheci essa música, Caleidoscópio, ainda não havia Herbert Vianna pra mim. Havia Paralamas do Sucesso, banda bacana pra embalar as festinhas. Os Long Plays do Paralamas tocavam inteiros.Todo mundo cantava numa só voz. E havia Dulce Quental, que lançou essa música maravilhosamente. Pra quem não se lembra, Dulce era vocalista de uma banda com nome de absorvente, Sempre Livre, formada por mulheres muito modernas para os anos 80, que pareciam nem precisar de um homem pra chamar de seu. Mas a banda e a Dulce cantavam o meio e o fim de alguns relacionamentos. O meio e o fim de alguns amores. 

Nessa época, pra mim, terminar era um drama ainda não vivido e que eu achava que tinha chances de não viver. Talvez porque ainda não tinha começado nenhum relacionamento. Só sonhava com eles. E também porque queria acreditar no amor que não vai embora. Me achava muito competente pra viver um amor eterno. Depois, desejei várias vezes que esses relacionamentos e amores fossem embora e dessem lugar a outros. Mas mandar embora um amor sempre foi complicado e nem sempre eles iam por conta própria. 

O fato é que toda vez que termino um relacionamento, querendo ou não querendo terminar, me vem a sensação de que eu nunca mais darei conta de passar por isso. Ao mesmo tempo, é tão bom se sentir livre pra pensar só por um, agir só por um e mudar a sua história somente, e a de mais ninguém, enquanto há tempo... Sim, porque pra muitas coisas que eu poderia querer fazer, o tempo já passou. Quando eu tinha 18 anos, dizia: - Só não dá mais pra fazer ballet ou ginástica olímpica. Com 23 eu pensava: - Não dá mais pra ficar beijando na porta da faculdade ou dentro do carro - embora nunca tenha sido muito rígida com essa questão. Com 28 eu já sabia que nunca mais poderia usar uma microssaia. Aos 31, deixei as mini-blusas de lado. Questão de ponto de vista. 

Mesmo que eu não volte ou comece a fazer tudo isso, ainda tem muita coisa que se pode começar ou voltar a fazer aos 35. Pode-se voltar a tocar piano, a cantar, a fazer yoga, a ler mais, a viajar. Aliás, tudo isso é possível até pra uma idosa de 70 anos. O problema é que, quando estou meio de luto, me sinto com mais de 70 ou muito gorda. Pra falar a verdade, só às vezes me sinto velha e gorda. Na maior parte do tempo, não. Então, eu posso começar pelo que já fiz e tive que parar por causa desses fins de relacionamento que não são, necessariamente, o fim do amor. Este sim, o fim do amor, deveria durar só um fim-de-semana. Porém, a gente sempre precisa de mais tempo pra entender que acabou e que, ao mesmo tempo, não é o fim. É o começo. O que vai embora primeiro? Questão de ponto de vista. 

18 de março de 2008.