segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O samba é a corda e eu sou a caçamba.



Ganhei uma coletânea de 24 sambas dos anos 70 e 80. Tem Roberto Ribeiro, Agepê, Benito di Paula, Alcione, Gilson de Souza, Originais do Samba, Martinho da Vila. Todos eram considerados bregas. Alguns são até hoje. Pura injustiça com esses sambistas de verdade. Nessa fase, também tinha um bom espaço para os que sempre foram “cult”: Gonzaguinha, Chico Buarque, João Bosco. Eram deles os sambas aceitos pela patrulha ideológica da época. Em nenhuma das duas listas o Paulinho da Viola se inclui. Ele está no cordão das unanimidades, junto com o Cartola.

O que acho interessante é que justamente nos anos 70 e 80, quando o ritmo foi tão marginalizado, é que surgiram alguns dos melhores sambas, depois da Época de Ouro, é claro. Acabei de falar sobre o CD pra um amigo quase da minha idade. Ele ficou animado e entendeu perfeitamente quando eu disse: “aquelas músicas que as nossas mães ouviam quando a gente era menino.”

Instintivamente, sempre ouvi música separando os instrumentos. E gosto de perceber os sons mais graves primeiro. No samba, o violão de 7 cordas pula na frente. O que é o que é e Com a perna no mundo, do Gonzaguinha, são exemplos de bons arranjos com esse instrumento de eminência parda. As músicas que a Alcione gravou antes da fase Carlos Colla, Sullivan e Massadas, em que o sax e a tecladeira predominam, também têm "7 cordas" memoráveis. O Cartola não abria mão do Dino, que faleceu há pouco tempo, e até hoje é a maior referência desse instrumento no Brasil. Tentei saber quem são os músicos que tocavam em alguns dos sambas da coletânea. Procurei as fichas técnicas na Internet e não encontrei nem nos sites oficiais dos artistas. Nos álbuns antigos, relançados em CD, também não costumam colocar esses créditos. É o fim. E vou ter que buscar os LPs antigos, se quiser saber.

Não achei o que procurava, mas ouvi duas coisas muito legais. Primeiro, foi a música Mangueira é Mãe, do cd novo da Alcione, ainda em fase de produção. Uma grata surpresa. A música é do Falcão e do Serginho Meriti. Falcão canta com Alcione. Arranjo perfeito, com naipes de metais e uma percussão pra ficar de boca aberta. Nesse mesmo álbum, o Gil divide com ela Entre a sola e o salto. Uma bela música dele, gravada há muitos anos pela marrom. E encontrei no site do Gonzaguinha algumas gravações de suas fitas demo. Um material bacana pra quem gosta mais de velharia do que traça.

Abaixo, os links dos sites da Alcione e do Gonzaguinha. E, só pra variar, uma autêntica cortapulsos. Uma homenagem ao samba, conduzida por um belo "7 cordas", com um back bem ao estilo das cabrochas.

alcioneamarrom.com.br
gonzaguinha.com.br


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Baixa santo ou orixá, lá lá lá.



De onde vem o lá lá lá? Pode ser lá rai á ou lá rá rá. Eu não sei, mas alguém deve saber de onde vem. O Tinhorão deve explicar isso muito bem. Vou procurar. O lá lá lá costuma imprimir uma marca muito forte nas músicas. E resolver alguns problemas de expressão também. Há quem diga que é onomatopeia ou interjeição. Eu não sei também. Está nas óperas italianas e, consequentemente, em muita música ocidental. Passeia por nove entre dez sambas famosos.

Laia ladaia sabanada ave maria: outra (não sei o quê) do mesmo tipo que se aplica em muita música. Dá um ótimo improviso numa roda de violão. Aliás, essa pulou daqui até o Carlos Santana. Ou será que desceu do México pra cá antes do Santana se apropriar? Está também em You don’t know me, do Transa. O que dizem é que Santana copiou o "laia ladaia" da música Reza, de Edu Lobo e Ruy Guerra, para o solo de Oye como va. E eles copiaram de quem? Certamente da cultura popular. Não importa de onde. Não tem dono. Assim como não tem mãe o infeliz que resolveu colocar lá rá iá no final de todos os pagodes vagabundos.

Mas o famigerado lá lá lá também pode ser usado para o bem e com muita propriedade. Quando a música é boa e se sustenta sem ele, é claro. Um exemplo bacana é Extra, do Gil. Aliás, que música sensacional. E que lá lá lá fantástico! É tão legal quanto ouvir a mãe do meu amigo dizer "ô lê lê". Só pra falar que está feliz com sua chegada. Ou minha amiga "a louca" resumir a conversa com um lá lá lá. Assim a gente se expressa. Na maioria das vezes, com alegria.

Lá iá lá iá lá iá lá iá!
Lá iá lá iá lá iá lá iá!