
Entre o final dos anos 70 e início dos 80, o programa do Chacrinha me apresentou Sidney Magal, Odair José, Fernando Mendes. Fábio Júnior, Dalto, Marcos Sabino, Ritchie. E eu era fã principalmente do Magal e do Ritchie. A patrulha ideológica começava em casa: mãe, irmãos e até minha avó, que gosta daquela aberração do Agnaldo Timóteo, censuravam. Acho que eles tinham medo de que eu me tornasse uma daquelas "macacas de auditório" que iam chorar na platéia do Chacrinha. Aquilo era um horror mesmo. Eu achava muito engraçado. Com os amigos, eu curtia o pop rock que surgia nos anos 80. Dividir a trdicional MPB com a pirralhada já era difícil. Assumir pros amigos que eu gostava de samba, que a família inteira curtia, era mais difícil ainda. Imagina música brega? Mas até hoje observo, nos bons finais de festa, que as pessoas conhecem o repertório cafona brasileiro e gostam. Fecham os olhos pra cantar, fazem gestos caricatos, brincam, pra não assumir, mas gostam.
E, felizmente, hoje tenho alguns amigos que curtem de verdade. Tem gente que acha que é modismo, zoação, mas não é. Outro dia, senti que o pai de um colega, que deve ter seus 55 anos, ficou decepcionadíssimo comigo porque eu falei que curtia Odair José. Por mais refinadas que sejam as referências musicais do indivíduo, todo mundo tem uma identificação com os traços dessa música exageradamente sentimental. Está no sangue latino, mas está no saxão e até no nipônico. Já ouviram as músicas japonesas da trilha de Kill Bill? Parece que saíram do México, do Uruguai.
Odair José é um dos meus preferidos. Sua música é simplória e inteligente. Muita gente acha banal, mas ninguém de sua época falou tanto das minorias com tanta clareza e sinceridade. E quem vendia, mesmo, nos anos 70, eram artistas como ele. Chico Buarque e Caetano Veloso, que por sinal apoia esse tipo de música desde a Tropicália, eram considerados cult. E vendiam apenas para o público mais engajado, segundo Paulo César Araújo, autor do Livro Eu não Sou Cachorro Não – Música Popular Cafona e Ditadura Militar. Outro emblemático: Waldick Soriano. Minha mãe adora Torturas de Amor. Mas eu me lembro dela falando assim: “Essa música é muito bonita. Será que é dele mesmo?” Olha que absurdo!
Magal foi criado por Paulo Coelho, quando este era produtor. Em Arrombou a Festa, do Paulo Coelho e da Rita Lee, ele mesmo arrasa sua criatura: “Cigano de araque fabricado até o pescoço.” É verdade. Mesmo assim, acho o Magal um artista fabuloso. Canta bem pra caramba, tem um swing impressionante e um excelente domínio de palco. Adoraria ser backing vocal dele.
Paulo Sérgio, como Odair José, alavancou sua carreira imitando Roberto Carlos. O trabalho dele não tem um décimo da qualidade do que o Roberto fazia na época. Os arranjos são precários, com teclado tosco imitando cordas. E o contrabaixo é sempre desafinado. Mas o cara era carismático e tinha uma musicalidade incrível. Era depressivo e foi um grande incentivador dos cortapulsos. Um dia, uma manicure me emprestou um cd dele. Levei para ouvir no trabalho, à tarde. Uma colega me pediu: "por favor, tire esse CD porque eu estou ficando deprimida, com vontade de morrer". Ele tinha esse poder. O sucesso do Paulo Sérgio incomodou o Rei. O nome do álbum O Inimitável, de 1968, é uma referência à sua imitação descarada. Perla também é bacana, apesar de só ter gravado versões, inclusive dos suecos do ABBA, que também são cafonas demais. Ah, e gosto de uma música com a Kátia Cega. Maldade, mas já virou sobrenome mesmo. Ela canta muito mal, mas a interpretação de Lembranças, de Roberto e Erasmo, é bem legal.
Que fique bem claro: gosto de música brega autêntica, por mais complexo que isso seja, e com personalidade. Isso não tem nada a ver com pagode ruim, breganejo e afins.
Tenho muita vontade de cantar as músicas desses artistas. Ainda não encontrei quem animasse fazer um trabalho assim comigo. Mas não desisti. E vou fazer com o maior carinho e respeito. São músicas que falam bem dentro de mim de muita gente, eu sei.
E, felizmente, hoje tenho alguns amigos que curtem de verdade. Tem gente que acha que é modismo, zoação, mas não é. Outro dia, senti que o pai de um colega, que deve ter seus 55 anos, ficou decepcionadíssimo comigo porque eu falei que curtia Odair José. Por mais refinadas que sejam as referências musicais do indivíduo, todo mundo tem uma identificação com os traços dessa música exageradamente sentimental. Está no sangue latino, mas está no saxão e até no nipônico. Já ouviram as músicas japonesas da trilha de Kill Bill? Parece que saíram do México, do Uruguai.
Odair José é um dos meus preferidos. Sua música é simplória e inteligente. Muita gente acha banal, mas ninguém de sua época falou tanto das minorias com tanta clareza e sinceridade. E quem vendia, mesmo, nos anos 70, eram artistas como ele. Chico Buarque e Caetano Veloso, que por sinal apoia esse tipo de música desde a Tropicália, eram considerados cult. E vendiam apenas para o público mais engajado, segundo Paulo César Araújo, autor do Livro Eu não Sou Cachorro Não – Música Popular Cafona e Ditadura Militar. Outro emblemático: Waldick Soriano. Minha mãe adora Torturas de Amor. Mas eu me lembro dela falando assim: “Essa música é muito bonita. Será que é dele mesmo?” Olha que absurdo!
Magal foi criado por Paulo Coelho, quando este era produtor. Em Arrombou a Festa, do Paulo Coelho e da Rita Lee, ele mesmo arrasa sua criatura: “Cigano de araque fabricado até o pescoço.” É verdade. Mesmo assim, acho o Magal um artista fabuloso. Canta bem pra caramba, tem um swing impressionante e um excelente domínio de palco. Adoraria ser backing vocal dele.
Paulo Sérgio, como Odair José, alavancou sua carreira imitando Roberto Carlos. O trabalho dele não tem um décimo da qualidade do que o Roberto fazia na época. Os arranjos são precários, com teclado tosco imitando cordas. E o contrabaixo é sempre desafinado. Mas o cara era carismático e tinha uma musicalidade incrível. Era depressivo e foi um grande incentivador dos cortapulsos. Um dia, uma manicure me emprestou um cd dele. Levei para ouvir no trabalho, à tarde. Uma colega me pediu: "por favor, tire esse CD porque eu estou ficando deprimida, com vontade de morrer". Ele tinha esse poder. O sucesso do Paulo Sérgio incomodou o Rei. O nome do álbum O Inimitável, de 1968, é uma referência à sua imitação descarada. Perla também é bacana, apesar de só ter gravado versões, inclusive dos suecos do ABBA, que também são cafonas demais. Ah, e gosto de uma música com a Kátia Cega. Maldade, mas já virou sobrenome mesmo. Ela canta muito mal, mas a interpretação de Lembranças, de Roberto e Erasmo, é bem legal.
Que fique bem claro: gosto de música brega autêntica, por mais complexo que isso seja, e com personalidade. Isso não tem nada a ver com pagode ruim, breganejo e afins.
Tenho muita vontade de cantar as músicas desses artistas. Ainda não encontrei quem animasse fazer um trabalho assim comigo. Mas não desisti. E vou fazer com o maior carinho e respeito. São músicas que falam bem dentro de mim de muita gente, eu sei.
Então, com vocês, o cigano de araque e sua cigana Sandra Rosa Madalena. "Cantem!" "Comigo!"