terça-feira, 6 de outubro de 2009

Não dá mais pra voltar porque eu fiquei tão longe.


Andei um pouco recolhida. E isso resultou, também, em minha ausência por mais de dois meses aqui no Miçangas. Durante este tempo, fiquei vários dias sem beber, parei de fumar (estou lutando com todas as minhas forças), lidei com problemas de saúde na família, decidi fazer uma cirurgia, reencontrei amigos queridos, descobri que não tenho tantos amigos assim, revisitei meu passado de maneiras diferentes e espero, realmente, estar iniciando uma fase nova. Durante muitos meses, tive a sensação de não dar um passo à frente. Falei muito sobre o que já foi e a nostalgia foi uma grande amiga. “Nostalgia” era o nome do primeiro disco que minha mãe comprou pra tocar em nossa nova vitrola. Veio junto com um do “Baianos e os Novos Caetanos”. Um dia perguntei a ela “quem era o Nostalgia.” Ela tentou me explicar o que significava o termo, mas acho que não entendi absolutamente nada. O disco, se não me engano, tinha bolero, foxtrot, tcha-rcha-tcha, coisas que nos anos 70 estavam em desuso.

Dia desses, caiu em minha mão um livro muito bonito. Chama-se “O Mundo Acabou!”, de Alberto Villas. É um livro de memórias, de costumes da classe média da época da infância do autor, anos 50. O livro nos lembra e/ou nos apresenta coisas que estão presentes na memória do brasileiro: drops Dulcora, brinquedos Estrela, anúncios antigos da Coca-Cola, do creme dental Kollynos. É delicioso. Voltar ao passado para resgatar memória afetiva é sempre bom. E a música promove isso a toda hora.

Meados dos anos 80, eu devia ter uns 13 anos e estava assistindo ao antigo programa do Faustão, o “Perdidos na Noite”. Nesse dia, Cazuza e Paulo Ricardo foram convidados para uma sabatina musical. Uma espécie de “Qual é a Música”, com muito mais conteúdo. Soltaram perguntas sobre a obra de Cartola, de Nelson Cavaquinho, de Dorival Caymmi. Me impressionou como o Cazuza desbancou o Paulo Ricardo no jogo. E entendi, na hora, porque o trabalho dos dois é tão diferente. Cazuza tinha grandes referências.

Estou ouvindo bastante os CDs novos do Arnaldo Antunes, “Iêiêiê”, e do Otto, “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”. Os dois me foram apresentados por um amigo que dividiu 15 dias de trabalho comigo, recentemente. E, por sinal, fizemos juntos uma bela campanha “anos 50”. Os CDs são exemplos do que representam as boas referências. Arnaldo Antunes e Otto são compositores que se renovam em cada trabalho. E mostram bem o quanto é importante para um artista reconhecer suas raízes. Tocar as pessoas com sua arte passa sempre por resgatar, com inteligência, a sua memória afetiva. E música boa se faz assim.

Por falar em nostalgia e música boa, segue aí uma do Nelson Cavaquinho, por Arnaldo Antunes, do álbum “O Silêncio”. Junto aos comentários (que eu espero que vocês façam) tem um clip de "Longe", do CD novo dele, o “Iêiêiê”.

Ah, fiquei feliz com os novos seguidores. Muito bem-vindos.

9 comentários:

Helena Machado disse...

Clip de "Longe", do IêIêIê - Arnaldo Antunes:
http://migre.me/8tM9

Anônimo disse...

Já estava com saudade do miçangas!

Maravilha Elena! Fico feliz por você se repaginando.

Me lembrou: "A lição sabemos de cor, só nos resta aprender!"

Helena Machado disse...

Isso aí, Roberta querida. Só nos resta aprender. Beijos, saudades.

Sofia Fada disse...

Elenaaa! Adorei o post! Que bom que você está se renovando. E que bom que está de volta por aqui. Acho que o movimento da vida é esse mesmo, de dentro pra fora... Tenho certeza de que muitas coisas boas estão pra vir.
E essa música 'O Juizo Final', ela fechava o espetáculo 'Por toda minha vida', que escrevi pro oficinão em 2001, você chegou a ver?
bjs!

Helena Machado disse...

Ei Sofia querida! Eu vi sim. E adorei. No dia em que nos conhecemos você me falou que tinha feito aquele trabalho tão bacana. Mas não me lembrava dessa música nele, não. E como mesmo que se chamava aquele "galâ"? Tão engraçado aquilo.

Bianca Giannini disse...

Ei, amiga, apesar do distanciamento, estou sempre em sintonia em vc, na torcida por dias melhores.
Como vc sabe, não tenho muita cultura musical, mas aos poucos vou aprendendo c vc e Leo. Vou ver essas. Beijo grande e te espero no sábado.

Helena Machado disse...

Eu sei que está, minha amiga querida. Me espere pro samba. Beijos.

Unknown disse...

Essa nostalgia sempre me faz achar melhor viver e envelhecer.

"Eu quero que a sirene soe e me faça levantar do sofá. Eu quero por Rita Pavone no ringtone do meu celular... e quando eu esquecer meu próprio nome, que me chamem de velho gaga."

Beijo

Helena Machado disse...

É bom envelhecer, sim. Quando a gente sabe viver, quando vê a beleza das coisas que passam por nós. Você sabe bem disso. E eu também. E é por isso que a gente gosta de Arnaldo Antunes. E é por isso que a gente espera se tornar velhinhos felizes. Beijos.