quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Quem desce do morro não morre no asfalto.


Entre os anos 70 e 80, Morais Moreira, junto com Caetano Veloso, Armandinho, A Cor do Som e Pepeu Gomes, ajudou a projetar o carnaval baiano para o resto do Brasil. Guitarra eletrizante, solos sensacionais que ficaram gravados na memória do brasileiro que parava onde estivesse pra ouvir. E, se pudesse, saía dançando. Letras lindas que diziam mais do que podiam, às vezes driblando a censura, com muita poesia. Era um carnaval extasiante que, visto de baixo dos trios-elétricos, tinha a cara de Dodô e Osmar. Visto de cima, tinha a cara de quem acabava de chegar com muita energia pra viver o melhor da vida. Saudosismo meu, pode ser. Se eu tivesse trinta anos a mais, talvez estivesse lamentando a falta das marchinhas, dos bailes de salão, do confete e da serpentina. E, daqui 20 anos, alguém há de lamentar a falta de Ivete Sangalo e Daniela Mercury no carnaval baiano/brasileiro.

Sinto falta de alguma coisa que se perdeu em algum lugar. Sinto falta do velho carnaval da Bahia, que eu nem cheguei a ver de perto, mas que influenciou a minha tradução dessa festa. Sinto falta dos becos mineiros, de ouvir Estrela de Madureira nos botecos. “Do cavaco, do pandeiro e do tamborim”. Sinto falta dos belíssimos sambas-de-enredo que as escolas cariocas apresentavam. E o curioso é que onde está o bom samba ou frevo de carnaval se vê gente animada de todas as idades, descobrindo ou relembrando as maravilhas que essa música tem. Menos no carnaval. Onde será que ele se esconde nessa época? Será que sai de casa para alugar os quartos e ganhar dinheiro? Morre no asfalto?

O máximo que se pode ver é o pessoal do Axé abrindo espaço para a velha guarda, em homenagens mais que merecidas, mas que a colocam onde não lhe convém: em um quadro amarelado na parede. O máximo que se vê são os blocos diurnos do Rio de Janeiro: Banda de Ipanema, Cacique de Ramos, Sovaco do Cristo e Monobloco, resistência do bom samba que, felizmente, a cada ano arrasta mais gente. É a Orquestra Imperial no pré-carnaval. E tudo isso é sucesso. Menos na nata do carnaval.

Só por curiosidade, o Morais Moreira, que escreveu uma belíssima página de nossa história musical, foi tratado há pouco tempo por uma revista de celebridades como "o pai (também músico) de Davi Morais (ex-namorado de Ivete Sangalo)". E esta foto aí não tem nada a ver com Carnaval, mas foi a melhor dele que eu encontrei no Google. Se tem alguém que não o conhece (vai saber), ele é quem está entre Fagner e Zé Ramalho. E, em primeiríssimo plano, está Jackson do Pandeiro, que foi influência para os três e para muito mais gente.

“Não se perca de mim, não se esqueça de mim, não desapareça!” Tão lindo isso. E faz tanto sentido quando o que se quer é dividir o máximo de emoção e de alegria dos velhos carnavais. Este ano, vou procurar minha turma num baile da terceira idade.

Encontrei Festa do Interior, do Morais e do Abel Silva. Linda música que faz uma referência à bomba que estouraram no Rio Centro, em 1981. No carnaval seguinte, ela colocou todo mundo pra dançar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caramba, o Morais Moreira e o Zé Ramalho eram muito parecidos quando eram mais novos. E estão tão diferentes agora, não é verdade? Até meados de 80, o carnaval era uma bela festa, com músicas deliciosas de se cantar e dançar. Agora tá essa coisa aí, de peitos e bundas eletrizantes. Perdeu o charme, a inteligência e a compostura. Pena.
Ótimo texto, Elena. Beijos procê! Dea

Helena Machado disse...

É verdade, Dea. Se pareciam mesmo, rs..
Obrigada pelo comentário, minha querida e fiel miçangueira.

Anônimo disse...

Excelente texto Ilênia.

Talvez por estarmos mais conscientes e exigentes as pornochanchadas carnavalescas atuais destoam tanto do que pretendíamos de uma diversão saudável.

Bjs

Carlos Rocha

Helena Machado disse...

Valeu, Carlos!