quinta-feira, 1 de julho de 2010

Porque cantar parece com não morrer.


Não gosto dos esquecidos só porque são esquecidos. Já disse isso aqui, inclusive, quando falei do Sérgio Sampaio. Gosto dos que são muito bons. E tenho prazer em lembrar às pessoas que eles existem e apresentá-los a quem não os conhece. É por isso que escrevo neste blog. É por isso (também) que eu canto. Por falar em coisas que estão meio esquecidas, se é que vocês me entendem, hoje resolvi falar de Belchior, Ednardo e Fagner.

Belchior, eu conheci criança, com Medo de Avião. E só no início da adolescência fui conhecer mais de suas músicas. Aí vieram pra mim Divina Comédia Humana, Velha Roupa Colorida, Galos Noites e Quintais, outras e outras que eu curtia em rodas de violão (animadíssimas). Na época, esse era meu programa favorito. Me juntava sempre a uma turma pra cantar e cantar. Aí conheci o Ednardo também. E descobri que o cara do Pavão Misteriozo (com z mesmo) tinha outras músicas muito bacanas: Enquanto Engomo a Calça, Manga Rosa, Flora, Terral e a que eu mais gostava: Falsa Inocência. Um choro que eu só conhecia das rodas de violão. E somente há pouco tempo Maki me apresentou a gravação do Ednardo. Mandei um mp3 pra Bia, minha amiga de infância, companheira de rodas de viola e de todas as horas, por mais tristes e difíceis que sejam.

Antes de Ednardo, eu conheci o Fagner. O disco Manera Fru-Fru Manera, o da foto acima, tocava insistentemente no quarto do meu irmão. Minha mãe implicava com a voz e os vibratos do Fagner, mas se rendia ao repertório que, realmente, era sensacional. Os LPs Ave Noturna, Eu Canto e Orós também estavam entre os nossos preferidos. Pra quem não sabe, as músicas dos primeiros discos do Fagner não lembram nem de longe Deslizes, Borbulhas de Amor e as outras péssimas que vieram depois. Esta fase negra do Fagner começou quando o Robertinho do Recife não mais se contentou em tocar com ele e passou a produzir seus discos também. Pra eles, foi ótimo. Ganharam dinheiro demais, fizeram sucesso demais. Fagner pulou diretamente da vitrola dos maconheiros da década de oitenta para “o primeiro lugar do Globo de Ouro”.

Belchior deu uns suspiros quando fez 10 anos de carreira, em 1986, lançando um disco comemorativo ao vivo. Depois disso, foram só relançamentos medíocres de suas boas músicas antigas. E muitos shows. Fazia uma média de 5 shows por semana por esse Brasil. Eu mesma já trabalhei na produção de alguns deles. E tive o prazer de conversar longamente com essa figura simpática e extremamente informada sobre tudo o que acontece à sua volta, esteja ele onde estiver. Belchior dava notícias dos poucos selos musicais de Belo Horizonte, das nossas cantoras , de como funcionavam as Leis do Desincentivo Cultural Municipal e Estadual daqui e de outras praças.

O Ednardo, só apareceu mesmo em Saramandaia, com a famigerada Pavão Misteriozo. Acho que eu nem era nascida nessa época. Fui a um show dele em 1998. Eu e mais 12 pessoas. O cara estava estressado e chateado com o parco público e com a produção ridícula que o recebeu aqui. Fazia dó.

Belchior, Fagner e Ednardo têm uma discografia respeitável, com arranjos memoráveis, pegada pesada de rock e muita influência do baião, do coco e da música dos paises de língua hispânica. Além da influência árabe em melodias modais, bem conhecidas do nordestino. Juntando tudo isso, dá uma bela página da música brasileira.

Abaixo, tem Pavão Misteriozo, do Ednardo, A Palo Seco, do Belchior e Años, do Pablo Milanes, cantada por Fagner e Mercedes Sosa.






Um comentário:

Rômulo Tavares disse...

Oi Elena. Legal seu texto. Gosto muito de Fagner também, porém, feito você, da parte antiga. Tenho o disco ORÓS e escuto-o eventualmente, fixando impressões fortes em FLOR DA PAISAGEM e CEBOLA CORTADA. O que me admira no Fagner desta época é a sua insistência quase “canina” na utilização dos OVERDUBS de sua própria voz. Não tenho informações precisas, mas acho que ele inaugurou (ou no mínimo, fortaleceu) este tipo de recurso de gravação. As “latomias” fagnerianas me encantam não pela beleza, mas pela emoção artística. Me parece que Fagner extravasa sua alma nestes momentos, sem muitas preocupações estéticas. Isso me fascina. Gosto também de Belchior e Ednardo, tenho discos deles também. Falaria mais se meu dia não estivesse tão stressante (telefones, horários, prazos...). Um abraço “procê”, de um nordestino que também ama a arte da sua terra. Obs.: o “sua” tanto é Nordeste, como Minas. rsrsrsrsrs.