segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um ardoroso espectador vira colibri.


Estava olhando a chuva cair lá fora e ouvindo “O Circo Místico”. Fiquei pensando na delicadeza dessa música. Como pode ser assim? Foi composta para “O Grande Circo Místico”, do Ballet Guaíra. O espetáculo é baseado no poema de mesmo nome, de Jorge de Lima, que assim começa:
“O médico de câmara da Imperatriz Tereza - Frederico Knieps - resolveu que seu filho também fosse médico. Mas o rapaz, fazendo relações com a equilibrista Agnes, com ela se casou, fundando a dinastia de circo Knieps de que tanto tem se ocupado a imprensa.(...)"
O poema, por sua vez, é inspirado num fato real. No Circo, a vida real se mistura a outra realidade. E a trajetória do artista se mistura à nossa. “O grito do homem voador ao cair em si”... como é bonito isso... Como pode ser assim?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Dor no apogeu.


“Ai de mim!”. “Ah, quanta desventura!”. A música de fossa me arrebata. Já falei sobre isso por aqui. Dor pra nenhuma Antígona botar defeito.

Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Melo (leitura básica pra quem quer saber sobre a nossa música), o período áureo do samba-canção-depressivo ou samba-de-fossa é de 1952 a 1957. Lúcio Alves, Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, Dick Farney e Ângela Maria cumpriam seu estrelato. As primeiras músicas do Tom ganhavam as rádios. Maysa lançava “Ouça”, hino maior da dor-de-cotovelo. E Fernando Lobo deixava uma grande herança pro seu filho, Edu, que mais tarde começaria a compor a dor da forma mais sublime.

Estava assistindo à minissérie Maysa um dia desses e, nela, o Bôscoli diz que “samba-canção é que anda pra trás”. Era um bobo mesmo, coitado. Bobo pra ser bem leve nos meus xingamentos. Ele nem imaginava que gente da sua própria geração e das seguintes fariam história compondo e cantando a dor em samba-canção. Enquanto isso, o “barquinho” dele e do Menescal continua me dando enjôo.

Está aí uma relativamente nova "corta-pulsos". Da doce Teresa Cristina e do Pedro Amorim, por Roberta Sá e Ney Matogrosso.




sábado, 3 de janeiro de 2009

Vamos começar lavando os pratos.


Em 2005 ganhei de uma amiga um monte de músicas muito especiais gravadas num CD. Cuidado e carinho na intenção, na seleção, na capinha, na forma de entregar o presente (esse veio com flores). As pessoas mais queridas sempre me deram música. De uma forma ou de outra. Hoje peguei esse presente pra ouvir e uma música de O Som do Sim, do Herbert Vianna, me tirou da melancolia: Vamos Viver. Repeti, repeti, repeti e me prendi à alegria que ela tem na letra, na veia do compositor, na voz infinita da Sandra de Sá. Veio como alento pros meus receios, pra minha ansiedade, e me ajudou a preparar o espírito pro ano que chegou. O meu 2009 começa como uma nova etapa, e não só como um marco simbólico. Às vezes a vida muda junto com o ano. Às vezes muda até com a lua.

“Vamos viver só de amor” não tem nada de utopia. É um convite a buscar um sentido novo em tudo. A vida, o trabalho, o supermercado, os pratos na pia, os discos na prateleira, o aluguel, a dor, a chuva, tudo isso tem outra cor quando a gente se prende ao que realmente interessa. Ao que é essencial: ter com quem contar pra poder falar dos próprios medos e assim eliminar pelo menos mais um. Sentir que você é muito importante pra muitas pessoas. Sorrir de alegria sem saber exatamente o motivo. Ganhar de presente a música e guardá-la pra sempre. Sobre todas as coisas, sob todas as formas, sempre há um motivo "pra se viver do amor".