quinta-feira, 27 de maio de 2010

Eu tenho um beijo preso na garganta. Eu tenho um jeito de quem não se espanta.


Recebi um e-mail do amigo Hélio Aroeira. Ele sempre manda coisas bacanas, mas hoje acertou na veia. Caí no choro lendo o texto do Caetano que conta, com riqueza de detalhes, o encontro entre ele e o pai de Torquato Neto. Caetano estava em turnê do show Muito, em Teresina. Seu Eli o procurou e, segundo Caetano, este foi o momento em que ele caiu da “dureza amarga” que sentiu quando soube do suicídio de Torquato. Já se passavam quatro anos da tragédia. E só aí Caetano chorou (copiosamente) a morte do amigo e parceiro. Foi consolado por seu Eli, que lhe deu uma “rosa pequenina”. E, no dia seguinte, compôs a música Cajuína.

Torquato Neto é um dos esquecidos do Tropicalismo. Digo esquecidos porque as pessoas, em geral, só se lembram de Caetano, Gil, Gal, Bethânia e Os Mutantes. E só há uns dez anos ou pouco mais conheceram o Tom Zé - graças ao David Byrne.

Torquato compôs quase cinquenta músicas em parceria com Caetano, Edu Lobo, Gilberto Gil, Nonato Buzar, Roberto Menescal e muito mais gente. É parceiro póstumo do Sérgio Brito do Titãs, em Go Back. E, junto com Edu Lobo, compôs a “dor de cotovelo” mais bonita do mundo: Pra Dizer Adeus. Gosto dele porque suas poesias não são mornas. Vão de um extremo a outro. Cortantes, contundentes, como é Mamãe, Coragem, parceria com Caetano, ou muito ternas, como é Um dia Desses, dele e do Paulo Diniz, que a Adriana Calcanhoto gravou lindamente.

Como um suicida que se preza, Torquato deixou uma carta. Dizia: "Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar". Thiago era o filho de Torquato. Com este aviso, parece que ele tentava protegê-lo de uma visão como a dele da realidade. Me parece aquela máxima: “felizes são os ignorantes” ou os que dormem. É duro e extremo. Mas quem tem um "beijo preso" precisa dormir um pouco às vezes. Ou pelo menos sossegar. Eu acho.

Abaixo tem um vídeo de um especial que a Globo fez em homenagem ao Torquato Neto. Gal, cantando Mamãe, Coragem, ao lado do Macalé, Wagner Tiso, Luisão e Pascoal Meireles. E Um dia Desses, com Adriana Calcanhoto e Kassin.

http://migre.me/Jxe1
http://migre.me/Jzdc

6 comentários:

Denilson Gambito disse...

Quem bacana! o cara era a poesia e findou-se como tal. Impressionante

Helena Machado disse...

É impressionate mesmo, Gambs, o Torquato.

Chris Rocha disse...

Olá moça,

andei dando uma espiadela no seu blogue e estou maravilhada, viu! Dica (indireta) do seu amigo (e meu tbm), o dono do comentário anterior ao seu. Hei de acompanhar suas atualizações.
Forte abraço

Chris

Helena Machado disse...

Oi, Chris! Que bom que conheceu o Miçangas e gostou. Venha sempre, sim. Vou tentar mantê-lo atualizado. Comentários como o seu é que me motivam. Beijo e obrigada.

Aroeira disse...

nossa, demais, helena!

Helena Machado disse...

Uai, Hélio. Obrigada. Achei que você já tinha visto esse. Foi você quem causou, rsrs...
O que eu fiz ontem, que fe falei, foi no Miçangas do Face. Já viu? Beijo.