segunda-feira, 7 de julho de 2008

Confessando bem, todo mundo faz pecado.



Em "Ciranda da Bailarina", Chico Buarque e Edu Lobo falam do mito criado pelos palcos. De como ficamos embriagados pela expressão de um artista, criando uma imagem de perfeição, mesmo que seja só por alguns instantes. É um sentimento bem parecido com a paixão. Assim, às vezes é difícil imaginar o que a bailarina, a trapezista ou outro tipo de artista que faz coisas extraordinárias pensa, onde dorme, como vive. Hoje, bem menos, já que a vida dos artistas é dissecada pelos sites, revistas e programas de TV. Me perguntei isso, pela primeira vez, quando fui ao Holiday on Ice com mamãe e papai. Era o primeiro grande espetáculo que eu assistia. Fiquei pensando se os patinadores eram casados, se tinham filhos, se iam à escola. Minha mãe me disse que os artistas itinerantes costumavam se casar entre si. E assim era possível viver em família durante as turnês. Já pensou se toda companhia funcionasse como um circo familiar? As luzes eram lindas, em tons de lilás e alaranjado, e o espetáculo ganhou uma dimensão inexplicável aos meus olhos. No início dos anos 80, qualquer atração internacional em BH já significava “o acontecimento”. Ainda mais um espetáculo de patinação em que o Fred, o Barney, a Vilma, a Beth e o Dino faziam acrobacias no gelo, inimagináveis por uma criança comum. Mas a verdade é que a magia dos palcos, das telas de cinema e de TV não escolhe idade, cultura, tempo ou lugar. Mesmo os mais críticos e céticos são seduzidos por ela. Ainda bem que é assim.

Enxergar o lado humano de um ídolo não é das melhores tarefas. E pode ser cruel com eles, já que eles também se irritam, tomam todas, têm problemas de pele, de estômago, de tpm, de família e de dinheiro. Até o Caetano.

Conheci o Caetano na infância, me apaixonei perdidamente por aquele leonino na adolescência e, há uns dez anos, resolvi encontrá-lo depois de um show. Não tinha um tostão furado mas ganhei o ingresso do meu namorado. Chamei um amigo (fã xiita) que conhecia bem o funcionamento do Palácio das Artes e fui. Depois do show comecei uma caçada. A Paula Lavigne mandou o motorista, que já era nosso chapa, avisar que Caetano não iria falar com ninguém. Básico. Mesmo assim, fui a todos os cantos possíveis, tentei cercar todas as saídas ao mesmo tempo e, finalmente, consegui encontrá-lo em um dos corredores. Quando nos viu, já foi dizendo, com a cara mais enjoada do condado, que não daria autógrafo. Eu, particularmente, não conheço nada mais sem sentido do que um autógrafo. Jamais pediria um a alguém. Mas isso bastou pra eu me sentir minúscula perto do meu ídolo. Mesmo assim, eu disse:
- E eu lá quero autógrafo, Caetano? Ele me olhou desconfiado e, antes que fosse mais grosso, falei que queria uma foto, apenas. Aí ele disse, com aquele jeito abaianado, com todos os fonemas abertos:
- Fóto, póde...

O fogo apagou em menos de uma semana e, depois, não tive mais vontade de defender o Caetano a qualquer custo, de travar discussões exaltadas sobre ele, e passei a enxergar o quanto o cara é mimado e chato. Tive que sentir na pele pra entender. Continuo amando o que ele tem de bom, e não é pouco. Aliás, tenho um amigo que diz que o maior defeito do Caetano é ser bom. Porque, aí, temos que fazer uma ressalva quando falamos mal dele. É chato mas é genial. Procuro, então, ver meus ídolos como vejo as pessoas queridas que me cercam. Humanos e imperfeitos como eu. O que também não é muito fácil. Mas prefiro não procurar saber se elas têm pereba. Quem não tem?


15 comentários:

Rubão disse...

Eu não tenho perebas. Tenho blog.

E, agora, você também.

Bem-vinda à blogosfera, Helena!

Se antes tinhas um amigo no local de trabalho, agora ganhaste um visitante contumaz deste espaço.

Bj,
r

Unknown disse...

Sempre fui seu fã. E quanto mais você se mostra, mais eu gosto.

Beijos e abraços,

Maki

Unknown disse...

Elena, tente outra abordagem! Clima de camarim é um pouco sufocante, claustrofóbico, confuso...

Dê mais uma chance ao Caetano! rs

Beijos

Edmar Souza disse...

Bem... devo ter sido das primeiras pessoas a te dizerem que o Caetano era um chato, e que ninguem merecia ser defendido incondicionalmente! Bem feito!! rsrsrss
O problema de ler o que vc escreve, é que me faz sentir o quao pequeno eu sou, e ao mesmo tempo o quanto eu posso ser melhor.. como vc! Continua linda!
Bjos
Ed

San disse...

aiai... sou sua fã né..antes recebia os textos, agora vou virar leitora de blog!!!! sucesso total!!! quero mais!! beijão!!!

Janice Lopes disse...

..então, minha linda. Situação similar aconteceu comigo e o Flávio Venturini.
Durante um longo tempo nãoconsegui dissociar a crise dele na minha frente da obra, que sempre gostei.
Com os anos de palco, fui percebendo que todos nós somos chatos, mesmo, de vez em quando.
É difícil pro fã entender que naquela hora o artista não quer papo tanto qto pro artista perceber que se tornou público para seu delírio e deleite.
Adorei seu blog como gosto de tudo que vc faz.
Beijos.

Janice Lopes disse...

rsrsrs. desculpe, quis dizer martírio e deleite.
Coisas de quem precisa ir dormir e fica aqui admirando o talento da amiga.

Mirinha!!! disse...

Adorei o Blog.
Vou fazer muitas visitinhas.
Ah! Foto pode??? Preguiça... rsrsr
Bjus!

Helena Machado disse...

Meninos.
Configurei o blog para receber as postagens de vocês por e-mail e respondi todas pelo e-mail também. E ontem, soube que essas respostas não chegaram aos seus destinatários. Peço desculpas pela “omissão um tanto forçada”e, a partir de agora, respondo no próprio blog. Obrigada pelo carinho. Muito bom ter tanta gente querida, e que eu admiro, comentando o Miçangas.
Beijos,
Elena.

MegMarques disse...

Oi Elena!
Que bacana o seu blog, gostei muito e virei fã sua!

bjo bjo bjo
Meg

Helena Machado disse...

Valeu, Meg. Muito bem-vinda ao Miçangas. Beijo.
Elena.

Theresa Russo disse...

Além de ser um superpomposo, metido e demasiado soberbo, Caetano Veloso e outros, enquanto milhares de estudantes brasileiros lutavam por um Basil melhor no na década de 70, esses estvam "protegidos' pelo governo vigente e até férias emm Londres curtiram...Uma vergonha nacional..

Helena Machado disse...

Ei, Theresa. Obrigada pela visita e pelo comentário. Pois é, ainda tem isso, né? Eu acho muito cruel qualquer pessoa ser obrigada a sair do seu país, em qualquer circunstância. Mas não podemos dizer que Caetano sofreu os horrores da ditadura. Não sofreu, não. Teve direito a voltar ao Brasil pro aniversário da mãe, inclusive. E, se minha memória não me falha, ele não conta isso em "Verdade Tropical". O Paulo César Araújo é quem diz na biografia do Roberto.

Helena Machado disse...

Novidade no Miçangas.

Helena Machado disse...

Novidade no Miçangas.