domingo, 6 de julho de 2008

Nosso amor que eu não esqueço.


Se tem alguém que sabe falar de sentimentos opostos, com a mesma força, é Noel Rosa. Suas músicas são divertidas, tristes, hilárias. Outras, contundentes. Último Desejo é uma dessas corta-pulsos de que eu gosto muito. Só a conhecia por minha mãe. Ela cantava no carro, despertando o mau-humor do meu pai que ficava incomodado com tanto sentimentalismo. Eu também me incomodava um pouco. Achava que ela estava triste, quando cantava. E, provavelmente, estava. Não me esqueço da cena: arqueava a sobrancelha, fechava os olhos, colocava a mão no peito e cantava com unção. Nem aí pros incomodados.

Um tempo depois vi o Boca Livre cantando Último Desejo no programa Globo de Ouro. Chamei minha mãe e disse: - olha a sua música, mãe! Desde então ela passou a ser minha também. Depois, comecei a gostar de cantá-la. Acho que a ironia entre os versos a torna mais leve, sugere nuances na interpretação. Dor de amor em música não me deixa triste. Fico feliz quando ouço e canto, pra dizer a verdade.

Antes, algumas músicas eram sinônimo de baixo astral pra mim. Tinha pânico de Rosa de Hiroshima. Hoje, só vejo beleza na música, na poesia e na voz. Tinha medo de Tropicália. Aquela introdução de metais densa me amedrontava. Tinha medo pela letra também. Imaginava os aviões decepando a cabeça do sujeito. Hoje, é uma das minhas preferidas. A voz grave do Nelson Gonçalves acabava com meu dia. Atualmente, pesquiso a obra dele. Que eu me lembre, as únicas músicas que ainda conseguem me deixar mal são Ces’t La Vie e aquela que fala do avental todo sujo de ovo da mãe. Essa última me faz chorar desde a época do maternal. Sei lá por quê. E, é claro, as ruins continuam me tirando do sério.

Acho que pra cada fase da vida da gente tem uma música que fala mais alto, grita, sussurra, machuca ou faz carinho. Música tem esse poder. E Noel Rosa é muito poderoso. Soube rimar amor, alegria e dor. Na arte e na vida.

14 de maio de 2008.


3 comentários:

Aroeira disse...

clap clap clap parabéns pelo blog - demorô - pelo escrito e pela sensibilidade. bem-vinda ao clube dos blogueiros
bjão

Anônimo disse...

eu vou te falar.. de forma breve.. como um texto de blog... adorei. Já coloquei nos meus favoritos. Bjo

Helena Machado disse...

Meninos.
Configurei o blog para receber as postagens de vocês por e-mail e respondi todas pelo e-mail também. E ontem, soube que essas respostas não chegaram aos seus destinatários. Peço desculpas pela “omissão um tanto forçada”e, a partir de agora, respondo no próprio blog. Obrigada pelo carinho. Muito bom ter tanta gente querida, e que eu admiro, comentando o Miçangas.
Beijo,
Elena.