domingo, 6 de julho de 2008

Se tudo tem que terminar assim, que pelo menos seja até o fim.


Quando conheci essa música, Caleidoscópio, ainda não havia Herbert Vianna pra mim. Havia Paralamas do Sucesso, banda bacana pra embalar as festinhas. Os Long Plays do Paralamas tocavam inteiros.Todo mundo cantava numa só voz. E havia Dulce Quental, que lançou essa música maravilhosamente. Pra quem não se lembra, Dulce era vocalista de uma banda com nome de absorvente, Sempre Livre, formada por mulheres muito modernas para os anos 80, que pareciam nem precisar de um homem pra chamar de seu. Mas a banda e a Dulce cantavam o meio e o fim de alguns relacionamentos. O meio e o fim de alguns amores. 

Nessa época, pra mim, terminar era um drama ainda não vivido e que eu achava que tinha chances de não viver. Talvez porque ainda não tinha começado nenhum relacionamento. Só sonhava com eles. E também porque queria acreditar no amor que não vai embora. Me achava muito competente pra viver um amor eterno. Depois, desejei várias vezes que esses relacionamentos e amores fossem embora e dessem lugar a outros. Mas mandar embora um amor sempre foi complicado e nem sempre eles iam por conta própria. 

O fato é que toda vez que termino um relacionamento, querendo ou não querendo terminar, me vem a sensação de que eu nunca mais darei conta de passar por isso. Ao mesmo tempo, é tão bom se sentir livre pra pensar só por um, agir só por um e mudar a sua história somente, e a de mais ninguém, enquanto há tempo... Sim, porque pra muitas coisas que eu poderia querer fazer, o tempo já passou. Quando eu tinha 18 anos, dizia: - Só não dá mais pra fazer ballet ou ginástica olímpica. Com 23 eu pensava: - Não dá mais pra ficar beijando na porta da faculdade ou dentro do carro - embora nunca tenha sido muito rígida com essa questão. Com 28 eu já sabia que nunca mais poderia usar uma microssaia. Aos 31, deixei as mini-blusas de lado. Questão de ponto de vista. 

Mesmo que eu não volte ou comece a fazer tudo isso, ainda tem muita coisa que se pode começar ou voltar a fazer aos 35. Pode-se voltar a tocar piano, a cantar, a fazer yoga, a ler mais, a viajar. Aliás, tudo isso é possível até pra uma idosa de 70 anos. O problema é que, quando estou meio de luto, me sinto com mais de 70 ou muito gorda. Pra falar a verdade, só às vezes me sinto velha e gorda. Na maior parte do tempo, não. Então, eu posso começar pelo que já fiz e tive que parar por causa desses fins de relacionamento que não são, necessariamente, o fim do amor. Este sim, o fim do amor, deveria durar só um fim-de-semana. Porém, a gente sempre precisa de mais tempo pra entender que acabou e que, ao mesmo tempo, não é o fim. É o começo. O que vai embora primeiro? Questão de ponto de vista. 

18 de março de 2008.

5 comentários:

Rocha disse...

Claro que todos os relacionamentos anteriores servem para uma artista de muito mais inspiração ainda.
O que acaba nos presenteando com pérolas do coração e da alma nos fazendo sentir superiores do que um simples mortal.

Unknown disse...

Adorei seu blog, já tem muita coisa e muitos ensinamentos romanticos.
Até breve
Seu primo Sérgio.

Helena Machado disse...

Meninos.
Configurei o blog para receber as postagens de vocês por e-mail e respondi todas pelo e-mail também. E ontem, soube que essas respostas não chegaram aos seus destinatários. Peço desculpas pela “omissão um tanto forçada”e, a partir de agora, respondo no próprio blog. Obrigada pelo carinho. Muito bom ter tanta gente querida, e que eu admiro, comentando o Miçangas.
Beijo,
Elena.

Ana Nery Santos disse...

Olá Elena, me deparei com este texto maravilhoso de seu blog, que, para mim especialmente no dia de hoje teve um impotância ímpar. Um amor tão esperado e tão desejado foi embora de minha vida hoje, estou muito triste, mas suas palavras me fizeram muito bem.
Obrigada!
Ana

Helena Machado disse...

Ana, como eu imagino o que você está sentindo. Mas faça um esforço pra pensar assim: o amor não vai embora. Ele faz parte de nós, e se renova todos os dias. Quando a gente consegue entender isso, passa a não se sentir mais só. E quando menos se espera, olha o amor aí de novo fazendo festa dentro da gente. Adorei seu comentário. Foi muito especial pra mim.