Neste ano eu fiz mais campanha pro Dia dos Namorados do que cartão de Natal no ano passado. Pra motel, joalheria, restaurante japonês, batom e até pra drogaria. Trabalho delicioso de fazer mas dá uma dor fininha, como diz minha amiga, quando a gente não tem namorado. Mas isso é outra história. Entrei no clima e estou ouvindo muita música romântica, especialmente as norte-americanas. Um festival de “I love you” que sempre me chamou a atenção. "I want tell you how much I love you" - linda. "Baby, baby, baby, baby, oh, baby, I love you" - um melado de amor. "I just call to say I love you" – nem parece que é do Stevie Wonder.
Brasileiro fala muito de amor mas não usa tanto “Eu te amo” na música. Eu sei que os sertanejos modernos abusam. O pessoal do Axé também. O respeitável Roupa Nova gravou uma música em que o cara fala que precisa gritar pra todo mundo ouvir, é verdade. Mas a música brasileira me parece mais original pra falar de amor. Fala mais da dor e da falta dele, isso é verdade. O nosso talento pra tal é tanto que a Nara Leão encomendou uma música ao Chico que contasse a história de uma dona de casa que agüentava poucas e boas do marido bebum mas abria os braços pra ele à noite, com todo amor e carinho. Ganhou uma obra-prima pra cantar - sem dizer “Eu te amo”. “Ai que saudades da Amélia”, do Ataulfo Alves e do Mário Lago, foi composta em 1942 mas estourou em pleno pós-guerra, na crista da onda sentimental-romântica das nossas rádios. E não tem a famosa expressão. A gente tem Vinícius e Toquinho pra dizer que o amor é uma agonia. Tem Lenine pra falar que o amor se foi desesperado. Tem Torquato e Edu pra contar que o amor foi tanto... e, no entanto, não tem muito “Eu te amo” na obra deles.
Convenhamos: até o amor de corno é mais bacana em nossa boa música. "Molambo", do Jaime Florence e Augusto Mesquita, é um bom exemplo. O sangue latino e a diversidade da cultura brasileira moldaram a nossa forma dolorida e refinada de expressar o amor. A gente não copia o “Eu te amo, então, feche os olhos e venha comigo” dos americanos. E a dor é o nosso grande canal. Afinal, como diz o Gil, que tem música pra tudo, “quando a gente tá contente, nem pensar a gente quer”. Quanto mais, falar.
2 comentários:
gosto de você..., da sua sensibilidade, das músicas que você gosta, do seu sorriso, de suas palavras, da forma linda que achou para nos dar o prazer de ler elena! um beijo grande!!
Oi, minha linda. Que bom ver você por aqui. É isso, então. Pra vocês, eu procuro dar o melhor de mim, sempre. E a música grita na frente, não tem jeito. Isso me faz muito bem. Ainda mais recebendo tanto carinho assim. Beijo grande, saudades.
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