domingo, 6 de julho de 2008

Com açúcar, com afeto.


Neste ano eu fiz mais campanha pro Dia dos Namorados do que cartão de Natal no ano passado. Pra motel, joalheria, restaurante japonês, batom e até pra drogaria. Trabalho delicioso de fazer mas dá uma dor fininha, como diz minha amiga, quando a gente não tem namorado. Mas isso é outra história. Entrei no clima e estou ouvindo muita música romântica, especialmente as norte-americanas. Um festival de “I love you” que sempre me chamou a atenção. "I want tell you how much I love you" - linda. "Baby, baby, baby, baby, oh, baby, I love you" - um melado de amor. "I just call to say I love you" – nem parece que é do Stevie Wonder.

Brasileiro fala muito de amor mas não usa tanto “Eu te amo” na música. Eu sei que os sertanejos modernos abusam. O pessoal do Axé também. O respeitável Roupa Nova gravou uma música em que o cara fala que precisa gritar pra todo mundo ouvir, é verdade. Mas a música brasileira me parece mais original pra falar de amor. Fala mais da dor e da falta dele, isso é verdade. O nosso talento pra tal é tanto que a Nara Leão encomendou uma música ao Chico que contasse a história de uma dona de casa que agüentava poucas e boas do marido bebum mas abria os braços pra ele à noite, com todo amor e carinho. Ganhou uma obra-prima pra cantar - sem dizer “Eu te amo”. “Ai que saudades da Amélia”, do Ataulfo Alves e do Mário Lago, foi composta em 1942 mas estourou em pleno pós-guerra, na crista da onda sentimental-romântica das nossas rádios. E não tem a famosa expressão. A gente tem Vinícius e Toquinho pra dizer que o amor é uma agonia. Tem Lenine pra falar que o amor se foi desesperado. Tem Torquato e Edu pra contar que o amor foi tanto... e, no entanto, não tem muito “Eu te amo” na obra deles.

Convenhamos: até o amor de corno é mais bacana em nossa boa música. "Molambo", do Jaime Florence e Augusto Mesquita, é um bom exemplo. O sangue latino e a diversidade da cultura brasileira moldaram a nossa forma dolorida e refinada de expressar o amor. A gente não copia o “Eu te amo, então, feche os olhos e venha comigo” dos americanos. E a dor é o nosso grande canal. Afinal, como diz o Gil, que tem música pra tudo, “quando a gente tá contente, nem pensar a gente quer”. Quanto mais, falar.

2 comentários:

Anônimo disse...

gosto de você..., da sua sensibilidade, das músicas que você gosta, do seu sorriso, de suas palavras, da forma linda que achou para nos dar o prazer de ler elena! um beijo grande!!

Helena Machado disse...

Oi, minha linda. Que bom ver você por aqui. É isso, então. Pra vocês, eu procuro dar o melhor de mim, sempre. E a música grita na frente, não tem jeito. Isso me faz muito bem. Ainda mais recebendo tanto carinho assim. Beijo grande, saudades.